Massimo Mussini - Crítica 

 Eduardo Dias da Rocha compara o carnaval de Veneza ao do Recife, na tentativa de colher semelhanças e diferenças. A sua fotografia tem a intenção de mostrar formas visíveis e não de comunicar conteúdos puramente conceituais. Mas é justamente nessa possibilidade de confronto binário que se observa a presença de um discurso mais profundo do que a simples intenção de fazer ver. Ao artificial e consumista carnaval veneziano ele contrapõe imagens humildes feitas em Recife: humildes não tanto no plano da composição, quanto pela realidade que nos apresentam. No plano figurativo, de fato, a escolha recai em evidências ao colocar, lado a lado, fotografias venezianas e enquadramentos semelhantes feitos em Recife, num contraponto seriado e contínuo com a clara intenção de facilitar o trabalho comparativo. Um nobre homem em um rico mas improvável costume renascentista que posa numa ponte veneziana. Na foto ao lado, um menino vestindo uma longa e larga camiseta com desenho de um esqueleto humano também ele retratado numa ponte da cidade brasileira. Ao lado do grupo veneziano, que tem em primeiro plano o retrato de uma menina de enigmático sorriso "leonardiano", encontramos também uma bailarina com pomposa fantasia adornada de plumas, num claro contraste entre inércia e movimento, entre ritmo lento e agitado. Desse confronto parece possível deduzir que no carnaval de Recife comparecem máscaras menos pretensiosas e fantasias geralmente menos ricas que aquelas de Veneza. Porém, é onde prevalecem uma maior participação polifórmica, uma vitalidade diferente, mas sobretudo, ali está presente, ainda, o fundo pagão da festa dos mortos, evocado para propiciar a retomada primaveril do ciclo da natureza que constituía o fundo originário do folclore carnavalesco. O olhar fotográfico de Eduardo Dias da Rocha é atento e seletivo. A atenção ao evento alterna-se com o interesse pelos aspectos formais das imagens. Sabe colher os momentos significativos no plano narrativo, conceituando-se nos primeiros planos ou nas situações ambientais, como revela o uso alternado do retrato e das figuras em grande angular. Sabe usar cortes formais, como o primeiríssimo plano do manto veneziano do qual saem longos cílios femininos, para reavivar formalmente a narrativa. Sabe, enfim, transmitir as características surreais do carnaval com os recursos e imagens que acentuam a escolha dos sujeitos, como, por exemplo, pode-se ver na fotografia final. Por estas particulares características, a série de imagens propostas por Eduardo Dias da Rocha apresenta-se mais como uma indagação antropológica do que como uma fotorreportagem, pois se esforça em coletar o quanto de autêntico ainda sobrevive sob a casca consumista que hoje tende a nivelar os costumes sociais.

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